Sexo, mentiras e teatro

29/04/2010 - 00h00

Vitor Ferri - vferri@redegazeta.com.br

Tudo começou há cerca de dois anos, quando a inquieta atriz Maria Maya e seu parceiro para todas as horas, o ator Rodrigo Nogueira, resolveram fazer um projeto ousado: produzir e lançar uma peça de teatro inspirado no filme “Sexo, Mentiras e Videotape” (1989), do cineasta americano Steven Soderbergh. “O diretor (Ivan Sugahara) me ofereceu a oportunidade de trabalhar no projeto. Tenho um carinho especial pelo filme. Poxa, ele fez parte da minha adolescência (risos). Tem tudo a ver com a contemporaneidade”, diz a atriz, em entrevista por telefone ao Caderno 2. “Fui até Nova York buscar os direitos do filme para podermos fazer a peça baseada nele. Mas não deu, voltei com um hiato. Então, decidimos aproveitar apenas a narrativa do filme, onde um triângulo amoroso é abalado com a chegada de um quarto personagem. O Rodrigo, então, acabou fazendo uma livre adaptação do filme”, explica Maria Maya. O resultado desse trabalhão todo poderá ser visto na peça “Play”, que será apresentada nesta sexta, sábado e domingo, no Teatro do Sesi, em Vitória. Além de M aria e Rodrigo, compõem o elenco os atores Daniela Galli e Sérgio Marone. Com o respaldo das excelentes críticas que a produção recebeu no Rio de Janeiro (onde estreou há um ano e meio) e em São Paulo, “Play” tem levado uma multidão às sa las de teatro onde quer que passe. “A peça é sucesso de público e crítica. Foi eleita uma das melhores de 2009. O texto é espetacular. É um drama, mas com humor, divertida, que levanta questões importantes. Faz o público refletir sobre a vida. O bom teatro não é só aquele chato, mas o divertido também”, defende o ator Sérgio Marone, também em entrevista por telefone. “A gente fica no meio, entre o drama e o humor. Não acredito em rótulos. Por isso, a peça passeia um pouco pelo drama dos personagens, mas regado com humor, das situações”, complementa Maria. No palco, Ana (Daniela Galli), Carla (Maria Maya) e César (Rodrigo Nogueira) reproduzem o triângulo amoroso retratado no filme. César é casado com a reprimid a Ana, mas trai a mulher com a sensual cunhada Carla. Enquanto que, com a esposa, falta sexo, com a cunhada César sente falta das conversas. É uma relação baseada só em sexo. Nesse meio, chega Sérgio (Sérgio Marone), o amigo de César que vai desestabilizar as relações. Se no filme de Soderbergh Sérgio era um homem que gravava mulheres por não conseguir mais manter relações sexuais “ao vivo”, em “Play”, ele só grava mulheres por ser um artista que está fazendo um projeto: um filme sobre “sexo, mentiras e videotape”. A partir daí, o projeto acaba se confundindo com a realidade dos personagens. “O bacana da peça é o diálogo que fica estabelecido o tempo todo com o público, misturando o projeto do filme com a vida dos personagens e até dos atores, já que não dá para determinar quem está falando em cena, se o personagem do vídeo, o da peça ou nós, atores. A peça quebra a quarta parede”, expõe Marone. Em cena, seis vídeos são exibidos num telão: duas atrizes desconhecidas, duas mulheres anônimas e as personagens Ana e Carla relatam momentos de intimidade que tiveram em suas vidas. No público, fica a dúvida: quais experiências são verdadeiras e quais não são? “As realidades do filme, da peça e dos próprios atores se confundem. É muito interessante isso o que o Rodrigo (autor) conseguiu fazer. Ele coloca a plateia não só no lado passivo, mas no ativo também. Nós colocamos esse jogo entre verdade e mentira na cabeça do espectador, c om muito humor”, diz Maria. Além da narrativa, o que chama a atenção do público é o entrosamento entre os quatro atores. “A galera fala muito da nossa energia, do elenco, que é todo mundo afinado. Nós nos divertimos em cena. O sucesso da peça é um pouco reflexo disso”, finaliza Marone.

Confira Maria Maya, Rodrigo Nogueira, Sérgio Marone e Daniela Galli Peça “Play” Onde:
Teatro Sesi, Rua Tupinambás, 240, Jardim da Penha, Vitória.
Quando: Sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 19h Ingressos: na Bilheteria do teatro, das 13h às 19h. Preço: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia). Clientes Porto Seguro e assinantes de A Gazeta têm
40% de desconto no valor da inteira. Classificação: 14 anos. Informações: (27) 3334-7327 e 8152-1461 e www.wbproducoes.com


“O bacana do teatro é a troca física com o público”
Maria Maya

O que você acha da ideia de sites gravarem e transmitirem peças de teatro do eixo Rio-São Paulo para todo o Brasil via internet? Afinal, há risco de o teatro também se tornar um produto de pirataria.
Essa questão de pirataria atrapalha inúmeros mercados, como o do cinema e da música. O bacana do teatro é a troca física entre os espectadores e os atores em cena. O teatro, quando filmado, perde em qualidade.

Há uma maneira de se adequar a esse cenário?
Hoje, as gerações mais novas estão mais ligadas à internet. O Sérgio (Marone) é mais ligado nessas coisas, mexe muito no Twitter e tal. A gente anda fazendo twitcam, com vídeos da peça pelo Twitter. A interação e o resultado têm sido ótimos.

Quais são os projetos na TV agora?
Tenho algumas propostas, mas não posso dizer ainda. São dois projetos na Globo, provavelmente para o segundo semestre ou início de 2011. Por enquanto, estou envolvida com as peças “Play” e “A Loba de Ray-Ban”. Temos um longo ano pela frente, com muitas apresentações. Quando acabar, aí eu faço TV.

“O teatro é onde me reciclo”
Sérgio Marone
, ator

Você vem de uma novela recente, “Caras Bocas” (Globo). Sente-se melhor atuando na TV ou no teatro?
Eu gosto muito do teatro. Os atores que fazem televisão não precisam, necessariamente, fazer teatro. Temos atores maravilhosos que não fizeram teatro, como Glória Pires. No meu caso, o teatro é onde me reciclo. Cada vez que faço teatro e volto para a TV, volto melhor, com novas percepções.


E Quais são os projetos na TV agora?
Por enquanto, fico só com a peça mesmo. Temos agenda para cumprir até outubro, o que me impede de assumir compromissos longos na TV. Mas vou fazer umas coisas diferentes no cinema e na TV, em breve. Não posso falar nada ainda (risos).

O que você acha da ideia de sites gravarem e transmitirem peças de teatro do eixo Rio-São Paulo para todo o Brasil?
Acho isso maravilhoso. Muitas peças não chegam a alguns Estados, que permanecem fora do eixo teatral. Por esse lado, esse público terá a chance de ver teatro. Mas, por outro lado, peça filmada não é teatro. Teatro é o momento, a presença da plateia, atores sujeitos a erros. Cada apresentação é única. Não tem preço poder ver o público nos teatros te assistindo.

Fonte: Gazeta


Postado por Daiane Rodrigues

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