Entrevista com Rodrigo Nogueira, premiado dramaturgo fala sobre seu novo espetáculo, "Obituário Ideal" com Maria Maya.

Obituário Ideal
Rodrigo Nogueira encena seu novo texto, acompanhado de Maria Maya no palco
Uma enfermeira e um professor de matemática não conseguem mais entrar em contato com seus sentimentos, anestesiados pela banalização da violência pela mídia. A solução encontrada pelo casal é totalmente inusitada: eles passam a frequentar enterros de desconhecidos para chorar. Através do pranto coletivo, os dois revivem emoções perdidas, e começam a se redescobrir como casal – ainda que, a fim de ir mais fundo nesta redescoberta, estejam sempre em busca de situações mais doloridas, em enterros cada vez mais chocantes.

Em temporada até 11 de dezembro, na Casa de Cultura Laura Alvim, “Obituário Ideal” fala da violência urbana através da mídia com humor ácido. No elenco estão Maria Maya – que vive a personagem Raíssa Barbosa, na novela “Aquele Beijo”, da TV Globo – e Rodrigo Nogueira, que também assina o texto e a direção ao lado de Thiare Maia.

Apesar do enredo incomum, a peça faz rir. “Eles são um casal falido, com os sentimentos embotados. A mulher só consegue sentir paz e afeto pelo marido naquela situação. Chega a dizer ‘o amor pelo morto é o amor mais verdadeiro que existe’. Como dramaturgo, Rodrigo tem uma forma de escrever corrosiva. Em contraponto ao texto, a ambientação é dos anos 1950, perfeitinha, cheia de leveza. Toda essa bizarrice é irônica”, diz Maria, que também produz o espetáculo.

Indicado aos prêmios Shell e APTR 2010 pelo texto da peça “Play”, Rodrigo Nogueira, diz que a parceria com Maria Maya é um dos pontos em comum entre as duas montagens: “Temos uma química muito forte, nos damos muito bem em cena. Em ‘Play’ éramos um dos casais, e agora reeditamos essa parceria, que deu certo”.

Outro ponto de encontro é a própria dramaturgia do autor, que traz diálogos precisos e uma mistura de realidade e com ficção. Todas as cenas começam com uma notícia – metade verdade, metade falsa – narrada por Maria Beltrão, apresentadora da Globo News. “Não é uma crítica ao jornalismo, mas sim à época de hoje. É um humor ousado, mas não grosseiro. É um humor crítico. As pessoas se reconhecem e riem muito”, diz Rodrigo, que, antes de se dedicar ao teatro, trabalhou como jornalista.
Entrevista com Rodrigo Nogueira, Premiado dramaturgo fala sobre seu novo espetáculo, 'Obituário Ideal'.

Uma enfermeira e um professor de matemática não conseguem mais entrar em contato com seus sentimentos, anestesiados pela banalização da violência pela mídia. A solução encontrada pelo casal é totalmente inusitada: eles passam a frequentar enterros de desconhecidos para chorar. Através do pranto coletivo, os dois revivem emoções perdidas, e começam a se redescobrir como casal – ainda que, a fim de ir mais fundo nesta redescoberta, estejam sempre em busca de situações mais doloridas, em enterros cada vez mais chocantes.

Em temporada até 18 de dezembro, na Casa de Cultura Laura Alvim, “Obituário Ideal” é um espetáculo recheado de subjetividade. Com humor ácido, a peça fala de amor e da violência urbana através da mídia. No elenco estão Maria Maya – que vive a personagem Raíssa, na novela “Aquele Beijo”, da TV Globo – e Rodrigo Nogueira, que também assina o texto e a direção ao lado de Thiare Maia.

Você tem formação em jornalismo e em teatro, como ator. Como começou a escrever para teatro?
Foi uma motivação extremamente egoísta: foi para me colocar em cena. Eu era ator, queria fazer peças, mas tinha que comprar direitos autorais, que eram muito caros. Eu queria montar uma peça do Neil LaBute, chamada “A Forma das Coisas”, e me cobraram US$ 7 mil de direitos. Como eu era um moleque de 24 anos, e não tinha dinheiro nenhum, falei: 'Quer saber? Eu vou escrever, porque não tem que pagar!'. Foi uma forma que eu encontrei para atuar. Porque dá para fazer peça com pouco dinheiro. Mas se você quer comprar um texto, tem que gastar muito dinheiro. Foi só por isso que comecei a escrever. Por essa necessidade.

E agora você já soma 11 textos montados e é visto como um autor com identidade dramatúrgica...
A identidade é porque eu tenho um jeito muito específico de escrever diálogos, que são muito rápidos, e também pela temática do que é real e do que não é. Eu não consigo fazer uma peça de teatro sem lembrar que a gente está dentro de uma peça de teatro. Essas duas características se unem muito fortemente e criam uma característica da minha dramaturgia.

Como você cria? É rápido? Faz pesquisas longas?
Varia muito de um trabalho para o outro. Mas de uma forma geral, sofro na hora de criar. Quando eu sei o que é a história, eu escrevo muito rápido, não tenho dificuldade. Isso veio do jornalismo, onde – às vezes – eu tinha que escrever uma matéria com o jornal no ar. Então a prática de sentar em frente ao computador, organizar as ideias, e escrever é muito fácil para mim. O que demora é o antes.

Como foi o processo de criação de “Obituário Ideal”?
Essa peça foi diferente porque eu a escrevi pela primeira vez em 2008, orientado pelo Bosco Brasil, num programa de jovens dramaturgos com profissionais experientes do Sesc. Na época, a Maria leu e gostou muito. Mas montamos “Play”, e fizemos milhares de outras coisas. Este ano ela me chamou para montar, e voltei ao texto. Achei que não tinha condição de montar aquilo, porque eu era muito diferente. As coisas que eu escrevia eram muito diferentes. Eu li e não gostei. Até me reconheci, mas achei imaturo. Reescrevi a peça inteira.

Como pesquisa, você foi a enterros para escrever essa peça?
Tirando a época de estagiário de jornal, quando cobri algumas mortes de traficantes, eu nunca tinha ido a um enterro até escrever essa peça. Depois que escrevi, fui a um único enterro de amigo. As tiradas da peça são da minha cabeça. A coisa de realidade e ficção não é só o meu tema, é a forma como que eu escrevo também. Eu misturo muita coisa.

Muitos realizadores de cinema e de teatro têm levado para suas obras essa quebra entre realidade e ficção. De onde vem essa necessidade?
Realmente tem muita gente falando disso. Eu acredito que é porque isso não é muito diferente da nossa vida. Se eu me apaixono, é alguma coisa que eu crio. Não é matemático: eu me apaixono por alguém por uma criação da minha cabeça, a outra pessoa se apaixona por mim por uma criação da cabeça dela. Além disso, a necessidade é de 2011. É muita coisa, muito aparelho, muita gente. É tanta informação, que a ficção só não basta para emocionar. Porque a gente já viu demais. Cada vez mais se precisa do real para poder emocionar. É como se a ficção estivesse batida. E também a realidade está batida. Então a opção é misturar das duas coisas. Isso explica o sucesso dos reality shows ou dos documentários, cuja linguagem está cada vez mais misturada. Isso é bem claro nos últimos 15 anos.

Suas outras peças também têm essa mistura?
Sempre. É uma obsessão. Cada peça fala de forma diferente, com temas diferentes. Todas as minhas peças têm isso. A única peça que não teve foi "Ainda Bem que Foi Agora”, uma comédia romântica, que escrevi com a Júlia Spadaccini. Mas tinha uma hora que os atores falavam para a plateia...

Quais são os projetos para 2012?
Como autor e diretor, vou fazer uma peça que está com o nome provisório de “Plurais”, onde comparo o universo feminino com o teatro. Com Malu Valle, Andréia Horta, Fabíula Nascimento e Dani Barros. São três histórias que envolvem mulheres mais novas com uma mais velha. E podem ser vistas do ponto de vista de atrizes mais jovens entrevistando a atriz mais velha, sobre o futuro delas. E como ator, vou fazer “Dentro”, com a Cia. Pequena Orquestra, da qual faço parte.

Um recadinho para chamar as pessoas para 'Obituário Ideal'?
A Maria fica de camisola e ela está muito linda (risos). Ela está incrivelmente linda, vale a pena ver. Não corte isso, viu? Deixa lá!
Postado por Daiane Rodrigues

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